quarta-feira, 29 de abril de 2009

O QUE É A CONSCIÊNCIA?

"O que é a consciência? É simplesmente negar as suas próprias causas, não as dos outros. Se existe algo chamado consciência seria isso. Vocês disseram: "Muito bem. Eu vou ser um bom rapaz, vou ser um bom rapaz e não vou fazer mais isso. Não vou fazer mais isso. Não vou fazer mais isso. Vou ser um bom rapaz. Não vou, não vou, não vou; vou ser um bom rapaz." Sabem, ser sob nenhuma coação, sem nada parecido com isso!

Chega quarta-feira, vocês estão indo da escola para casa e tudo parece ótimo, particularmente aquelas maçãs. Então vocês pulam a cerca, sobem na macieira, pegam uma boa quantidade de maçãs e as guardam dentro da camisa, e voltam ao seu caminho para casa e começam a andar, e então, por uma razão ou outra sentem-se culpados. Ora, vocês sabem que ninguém vai chegar e os prender, não por roubar umas maçãs, e tentam entender isso. "O que está acontecendo? Será porque tenho medo que alguém me pegue ou algo assim?" E vocês consultam tudo menos os seus próprios postulados, consultam todo o resto. E então por fim vocês têm idéias estranhas de que "Tenho medo da polícia. Tenho medo que o meu pai e a minha mãe me castiguem. Tenho medo que toda a sociedade me abandone e me deixe morrer nestas áridas planícies do Bronx"; tudo menos o fato de que: "Na terça-feira passada eu disse que ia ser um bom rapaz e agora não estou sendo um bom rapaz."

Vocês são os seus próprios juízes e, acreditem em mim, muito freqüentemente são os seus próprios carrascos. Fascinante, não é?

L. Ron Hubbard

segunda-feira, 27 de abril de 2009

MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA NO MERCADO DE TRABALHO: SEJA VISÍVEL, FÁCIL E HUMANO

SÃO PAULO - Ter uma carreira de sucesso e se dar bem no mercado de trabalho não é das tarefas mais fáceis hoje em dia. Afinal, as empresas estão procurando super-profissionais, com características difíceis de encontrar em uma multidão.

Em primeiro lugar, elas querem alguém fácil e flexível. De acordo com a vice-presidente da AAPSA (Associação Paulista dos Gestores de Pessoas), Erika Knoblauch, no contexto atual, que é de muita competitividade entre as empresas, os profissionais precisam estar preparados para assumir diferentes papéis nas organizações e se adaptar às situações mais adversas, que podem ocorrer tanto dentro da empresa quanto no ambiente macro, por exemplo, em âmbito econômico.

Manual de sobrevivência no mercado

Outra característica que pode salvar sua pele: seja humano. Isto é, saiba se relacionar com pessoas. Estas, muitas vezes, serão totalmente diferentes de você, bem como terão visão oposta com relação a determinados assuntos. Mas o relacionamento interpessoal é essencial para sobreviver, não só em uma empresa como também no seu ramo de atuação como um todo.

Quando você consegue manter um bom relacionamento com profissionais de sua área, tem maior empregabilidade. Se um dia precisar de emprego, certamente surgirão muitas oportunidades, porque as pessoas te conhecem e têm uma visão positiva acerca de seu caráter e seu trabalho.

Por fim, seja visível. Não adianta encarar desafios profissionais e se esforçar ao máximo para atingir as metas, se ninguém nota. Uma forma de ser reconhecido é pedir um feedback para a chefia acerca do seu trabalho. Na ocasião, aproveite para dar um feedback a respeito de seus projetos. Conte as dificuldades que enfrentou e, de forma humilde, revele que está satisfeito por ter conseguido transpô-las.

Outra idéia para ser visível é, de acordo com Erika, participar de grupos fora da empresa, como associações de seu ramo de atuação, e dar palestras. "Isso aumenta a visibilidade do profissional no mercado e não o deixa tão sozinho. É uma segurança a mais", finaliza a vice-presidente da AAPSA.

Fonte: UOL Economia: Plano de Carreira

sábado, 25 de abril de 2009

DIÁRIO: DIETA

Querido Diário,

Hoje começo a fazer dieta. Preciso perder 8 kg . O médico me aconselhou a fazer um diário, onde devo colocar minha alimentação e falar sobre o meu estado de espírito. Sinto-me de volta à adolescência, mas estou muito empolgada com tudo. Por mais que dieta seja dolorosa, quando conseguir entrar naquele vestidinho preto maravilhoso, vai ser tudo de bom.


Primeiro dia de dieta:
Uma fatia de queijo branco. Um copo de diet shake. Meu humor está maravilhoso. Me sinto mais leve.

Segundo dia de dieta:
Uma saladinha básica. Uma fatia de queijo branco. Algumas torradas e um copo de iogurte. Ainda me sinto maravilhosa. A cabeça dói um pouquinho, mas nada que uma aspirina não resolva.

Terceiro dia de dieta:
Acordei no meio da madrugada com um barulho esquisito. Achei que fosse ladrão. Mas, depois de um tempo percebi que era o meu próprio estômago. Roncando de dar medo. Tomei um litro de chá. Fiquei mijando o resto da noite.
Anotação: Nunca mais tomo chá à noite.

Quarto dia de dieta:
Estou começando a odiar salada. Me sinto uma vaca mascando capim. Estou meio irritada. Mas acho que é o tempo. Minha cabeça parece um tambor. Janaína (aquela estagiaria novinha) comeu uma torta alemã hoje no almoço. Mas eu resisti. Comi só duas fatias de queijo branco.
Anotação: Odeio Janaína

Quinto dia de dieta:
Juro por Deus que se ver mais um pedaço de queijo branco na minha frente, eu vomito! No almoço, a salada parecia rir da minha cara. Gritei com o boy hoje! E com a Janaína. Preciso me acalmar e voltar a me concentrar. Comprei uma revista com a Gisele na capa. Minha meta. Não posso perder o foco.

Sexto dia de dieta:
Estou um caco. Não dormi nada essa noite. E o pouco que consegui, sonhei com um pudim de leite. Acho que mataria hoje por um brigadeiro...

Sétimo dia de dieta:
Fui ao médico. Emagreci 250 gramas . Tá de sacanagem! A semana toda comendo mato. Só faltando mugir e perdi 250 gramas ! Ele explicou que isso é normal. Mulher demora mais emagrecer, ainda mais na minha idade. O FDP me chamou de gorda e velha!
Anotação: Procurar outro médico.

Oitavo dia de dieta:
Fui acordada hoje por um frango assado. Juro! Ele estava na beirada da cama, dançando dança do ventre.
Anotação: O pessoal do escritório ficou me olhando esquisito hoje, Janaína diz que é porque estou parecendo o Jack do 'Iluminado'.

Nono dia de dieta:
Não fui trabalhar hoje. O frango assado voltou a me acordar, dançando a kara karamba kara karaô dessa vez. Passei o dia no sofá vendo tv. Acho que existe um complô. Todos os canais passavam receita culinária. Ensinaram a fazer Torta de morangos, salpicão e sanduíche de rocambole.
Anotação: Comprar outro controle remoto, num acesso de fúria, joguei o meu pela janela.

Décimo dia de dieta:
Eu odeio Gisele Bundchen! Com photoshop até a Dercy Gonçalves fica gostosa.

Décimo-primeiro dia de dieta:
Chutei o cachorro da vizinha. Gritei com o porteiro. O boy não entra mais na minha sala e as secretárias encostam na parede quando eu passo.

Décimo-segundo dia de dieta:
Sopa.
Anotação: Nunca mais jogo pôquer com o frango assado. Ele rouba.

Décimo-terceiro dia de dieta:
A balança não se moveu. Ela não se moveu! Não perdi um mísero grama! Comecei a gargalhar freneticamente. Assustado, o médico sugeriu um psicólogo. Acho que chegou a falar em psiquiatra. Será que é porque eu o ameacei com um bisturi?
Anotação: Não volto mais ao médico, o frango acha que ele é um charlatão.

Décimo-quarto dia de dieta:
O frango me apresentou uns amigos. A picanha é super gente boa, e a torta, embora meio enfezada, é um doce.

Décimo-quinto dia de dieta:
Matei a Gisele Bundchen ! Cortei ela em pedacinhos e todas as fotos de modelos magérrimas que tinha em casa.
Anotação: O frango e seus amigos estão chateados comigo. Comi um pedaço do Sr. Pão. Mas foi em legítima defesa. Ele me ameaçou com um pedaço de salame.

Décimo sexto dia:
Não estou mais de dieta. Aborrecida com o frango, comi ele junto com o pão. E arrematei com a torta. Ela realmente era um doce...
Frase de Reflexão:
'Certas dietas são simples: basta cortar o açúcar, as frituras, as massas, as bebidas alcoólicas, os pães e os pulsos.'

quinta-feira, 23 de abril de 2009

POSSO TER DEFEITOS...

Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,
mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo.
E que posso evitar que ela vá a falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver
apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e
se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar
um oásis no recôndito da sua alma .
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um 'não'.
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.

Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo...

(Fernando Pessoa)

terça-feira, 21 de abril de 2009

domingo, 19 de abril de 2009

A MATERNIDADE PELO AVESSO NO NOVO ROMANCE DE BERNARDO CARVALHO

Texto por MARTA BARBOSA
Colaboração para o UOL

O novo livro de Bernardo Carvalho, "O Filho da Mãe" (ed. Companhia das Letras, 199 páginas), periga ser um dos melhores títulos brasileiros do ano, sem nenhum exagero. Com uma trama complexa e muito bem construída, o autor consegue manter a tensão na leitura até a última das 199 páginas de texto. Dramática, a história transita pela guerra da Tchetchênia, por uma São Petersburgo em obras, pelo alto mar do Japão. E tudo se converge no tema da vulnerabilidade natural a todo e qualquer ser humano, em especial às mães.

Sim, os dramas da maternidade estão no epicentro do livro. Em alguns momentos, chega a ser patética a imagem de mãe criada por Bernardo, seja na figura da personagem incapaz de proteger o filho, seja na imagem da mulher desesperada em manter um não-sentimento pelo filho que abandonou. As mães são caóticas. Estão bem distante do pedestal aonde usualmente costumam ser elevadas. E a maternidade é apresentada em seu avesso: pelo abandono, desamparo e culpa.

Em um dos dramas, Olga deixa vencer-se pelo marido que quer a todo custo ver o enteado repetir suas pesadas experiências de juventude -- o que significa sobretudo entrar para o exército russo. Em sua defesa, Olga mente, "por condicionamento e inércia". Finge acreditar que só os homens que passam pelas forças armadas são capazes de sobreviver à Rússia. Dissimula que todos os horrores aos quais o filho é submetido são necessários. Tenta não enxergar a inquietação do padrasto ao ver que o enteado pode ter uma juventude diferente da sua, longe das humilhações e superações desnecessárias da guerra. Nikolai, o padrasto, encontra na submissão da mulher o aliado para fazer com que o jovem Andrei repita sua vida trágica, como se de repetições fosse o ciclo da vida.

Em outra ponta da trama, Anna é a mãe surpreendida pelo encontro com o filho que abandonou recém-nascido. Ela foge do passado porque está certa que ninguém ama por obrigação. E fica em pânico diante da mínima possibilidade de experimentar um sentimento qualquer dessa relação borrada. Não há inocência na imaturidade de Anna, nem nas dores de Olga, Nikolai, nem do próprio Andrei. Aliás, ingenuidade é algo que não existe nos personagens conflituosos desse romance.

Entre diálogos interrompidos e frases não-ditas, chama atenção no modo de narrar do autor a escolha do tempo verbal. Bernardo é fiel ao presente, o que traz um imediatismo jornalístico ao texto. Merece destaque as passagens de perseguição que atravessam as ruas da cidade "construída para ninguém escapar". A geografia de São Petersburgo moldura toda a trama, num exercício de descrição espacial muito bem executado. Os personagens de Bernardo estão sufocados pela poeira da cidade em obras, na véspera do seu tricentenário.

Amores expressos
"O Filho da Mãe" é o segundo volume da polêmica coleção Amores Expressos, pela qual 16 autores foram (financiados pela Lei Rouanet) para alguma parte do mundo (de Nova Iorque, Lisboa a Xangai) em busca de inspiração para escrever uma história de amor. O processo de seleção dos autores e o financiamento do governo à iniciativa causaram críticas. Polêmicas a parte, é bom ver que de São Petersburgo, Bernardo Carvalho trouxe um bom livro.

O carioca Bernardo Carvalho é apontado como um dos mais criativos entre a atual leva de escritores brasileiros. É dele o excelente "O Sol se Põe em São Paulo", além de duas premiadas publicações de ficção: "Nove Noites" (prêmio Portugal Telecom) e "Mongólia" (prêmio Jabuti), todos lançados pela Companhia das Letras.
--------------------------------------------------------------------------------
"O Filho da Mãe"
Autor: Bernardo Carvalho
Editora:Companhia das Letras
199 páginas
--------------------------------------------------------------------------------


LEIA UM TRECHO DO LIVRO

Andrei sai do quartel a tempo de chegar à praça da estação às nove da noite. Não deve ser visto. As ruas ainda não estão completamente desertas, mas a essa hora, pelo menos, sua figura solitária não despertará tanta suspeita quanto se passasse por ali de madrugada. Terá que voltar antes do último metrô, pelo mesmo motivo, para não ser visto como exceção. Leva a mochila vazia nas costas, como se estivesse de licença, a caminho de casa. É um disfarce inútil. No quartel, não engana ninguém. Não volta para casa desde que entrou para o serviço militar, vai fazer um ano. Não poderia voltar nem se estivesse de licença, já que foi ex-pulso de casa. A mãe e a irmã vivem onde termina o país, sete fusos horários à frente. Não recebe notícias das duas desde que chegou a São Petersburgo. Mesmo se tivesse permissão, não se atreveria a ligar, correndo o risco de ter que falar com o padrasto, no caso de ele atender. As cartas que escreve eventualmente, à noite, não passam de exercícios de comunicação, para não perder a prática, já que não pode enviá-las. Vai rasgá-las de qualquer jeito. Não conversa com ninguém. Não fala nem mesmo com as paredes, um vício de infância ao qual costumava recorrer, quando estava só, em Vladivostok, mas que interrompeu, providencialmente, nem que tenha sido por um espírito igualmente inconsciente de sobrevivência, quando chegou ao quartel. No dia da partida, em Vladivostok, a mãe foi ter com ele na estação. Apareceu de surpresa, quando Andrei já não a esperava, e lhe entregou um farnel para a viagem; disse ao filho que ele tinha a vida pela frente e o beijou na testa. Nem a raiva que a frase lhe despertou naquele momento - e que, no decorrer dos dias, ao longo da linha de trem até São Petersburgo, foi aos poucos sendo substituída pela saudade - seria capaz de fazê-lo desejar que a mãe soubesse o que a vida se tornou, que vida é essa que ele leva agora. O soldado na guarita sabe muito bem aonde é que ele vai (é possível que também tenha sido obrigado a passar pela mesma humilhação quando recruta) e não perde a oportunidade de fazer uma gracinha. Andrei finge que não ouve. Os rumores correm à boca miúda entre os soldados e os oficiais do regimento. A asneira foi ter retrucado, a sério, que era o único filho varão de sua mãe e, portanto, arrimo de família, quando o capitão, sem deixar transparecer o tom de zombaria, ameaçou mandá-lo para a guerra como punição por um descuido qualquer. Não há nada pior para um recruta do que se recusar a partir para a guerra - ou levar a sério a zombaria dos superiores. O que no início pode não ter passado de provocação se transformou em represália. Desde então, nunca mais teve paz. Se tivesse ficado calado, e se resignado à bazófia do capitão, possivelmente não teria sido selecionado para uma missão como esta, forçado a arrecadar verbas para completar o salário dos superiores e sustentar o quartel falido. No ponto de ônibus, ele ajusta o capuz do moletom. Segue à risca as instruções do sargento Krássin. É melhor não ser interpelado por policiais - a cabeça raspada não deixa dúvida quanto ao recruta que ele é e que a esta hora devia estar na caserna, a menos que seja um desertor. Até que não seria mau se, graças a um contratempo qualquer, ele fosse preso e obrigado a revelar a verdade à polícia. Mas, nesse caso, só um milagre o salvaria quando voltasse para o quartel no dia seguinte.

As regras mudaram na última hora (houve denúncias recentemente). Não é que o sargento tenha optado pelo perigo por puro sadismo, que não lhe falta, porque assim estaria pondo a própria operação sob ameaça. A exigência partiu do próprio cliente, um oficial da reserva que, para não ter de passar mais uma vez pelo constrangimento de explicar aos policiais durante a ronda noturna o que fazia com o carro parado, à noite, nas imediações do quartel - e, não os satisfazendo com a explicação, ser obrigado a suborná-los para não ser indiciado por atentado ao pudor, por corrupção de militares ou por outra delinquência qualquer -, estabeleceu regras mais seguras para si. É o recruta quem terá de arcar com o ônus de chegar até o ponto de encontro e voltar para o quartel, com o dinheiro, durante o horário de funcionamento do transporte público. Andrei sabe o que o espera. É a primeira vez, mas não é difícil imaginar. Procura não imaginar. Como o ônibus não vem, decide tomar o metrô. É um pequeno ato de insubordinação. O que lhe resta de livre-arbítrio é também o que aumenta a sua margem de risco. Procura não pensar em nada para não sentir vertigem no alto da escada rolante que desce até a plataforma subterrânea. O movimento dos degraus subindo e descendo lhe revolve o estômago. Não há metrô mais profundo que o de São Petersburgo. Foi construído sob um enorme pântano onde jazem as ossadas dos servos e prisioneiros que ergueram as fundações da antiga capital. Enquanto ele desce aos subterrâneos, seu olhar cruza com o de um rapaz - barba por fazer e cabelos sebentos, presos num rabo-de-cavalo -, que sobe pela escada rolante ao lado, para a superfície e o frescor da noite de final de verão. Se existissem almas que pudessem abandonar os corpos em movimento, deixava a carcaça seguir só, inconsciente, e tomava o corpo de alguém na escada rolante ao lado, que sobe para a rua, assumindo uma nova vida, fora do quartel. Às vezes imagina que, no seu lugar, um homem de brios tivesse preferido levar outra surra e passar, com sorte, uma semana na enfermaria. Mas uma coisa não elimina a outra. Não há escolha no regimento. A única vantagem da surra seria perder a consciência, esse peso que vai se tornando insustentável - se não fosse preciso recobrá-la e voltar para o quartel, para novas surras e punições. A verdade é que Andrei pode apanhar até cair, mesmo depois de ser humilhado. Não adianta querer entender por que o simples fato de ser quem ele é, um mero recruta, o obriga a fazer o que não quer. É o seu lugar e a sua hora. Não é ele quem está subindo as escadas rolantes no lugar do rapaz de cabelos sebentos. Está descendo aos infernos. Procura não imaginar para evitar a vertigem e a náusea. Tenta se convencer de que está apenas cumprindo ordens. Para poder seguir em frente com alguma dose de irresponsabilidade.

A esta hora, não há filas diante das portas que dão acesso aos trens, alinhadas dos dois lados da plataforma, à imagem de elevadores no lobby de um prédio comercial. Quem trabalha já voltou para casa e o movimento está reduzido a tipos solitários e eventuais. Pelo menos até a chegada do próximo trem de Moscou ou dos balneários, quando famílias carregadas de malas, voltando das férias, serão despejadas nas principais estações da cidade, infiltrando-se pelas artérias do transporte urbano, como uma inundação. Por enquanto, a estação de metrô onde ele entra está vazia. Poderia ter escolhido qualquer uma das portas, mas vai se plantar justamente atrás do único passageiro além dele na plataforma - um velho com uma sacola de supermercado em cada mão, que espera diante da segunda porta à direita e que se afasta, resmungando algo incompreensível mas que obviamente tem a ver com o recruta, ao perceber a presença dele às suas costas. O velho procura outra porta diante da qual possa esperar sozinho. A escolha de Andrei traduz uma lógica simplória e infantil, como se na companhia do velho tivesse menos chances de ser desmascarado - e sua missão, de ser descoberta pela polícia -, como se, aos olhos dos outros (que ali não estão), pudesse estar acompanhando o avô de volta para casa. Se o velho não tivesse mudado de porta, era bem capaz que Andrei tivesse se oferecido para ajudá-lo com as sacolas de supermercado. O trem chega e as portas se abrem. No vagão em que ele entra, há apenas uma mulher com maquiagem carregada. Andrei senta, sem se dar conta, no banco diante do dela. É uma espécie de compulsão inconsciente. Evita ficar sozinho. Como se a proximidade dos outros pudesse desviar a atenção de si mesmo. É uma mulher destruída. Os cabelos louros embranquecidos e esfiapados mal cobrem a cabeça oval e o rosto macilento, com dois olhos azuis aguados, manchados de preto, e os lábios muito finos, quase inexistentes, borrados de vermelho, como se o batom fosse o resquício de sangue de uma fenda cosida. A mulher o encara. Andrei a imagina careca, com a cabeça raspada, como ele, ou morta, de olhos fechados e mãos gélidas. Arruma o capuz para cobrir melhor a cabeça, e se encolhe. A mulher não tira os olhos dele. Está a ponto de dizer.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

ÁLBUM DOS BEATLES SERÃO RELANÇADOS REMASTERIZADOS E COM NOVOS ENCARTES

por: Luciana Maria Sanches

Um comunicado da Apple Corps Ltd. e da gravadora EMI animou os fãs dos Beatles. Doze álbuns do quarteto de Liverpool foram remasterizados no estúdio Abbey Road e serão relançados no dia 9 de setembro, mesma data que sai o game Beatles: Rock Band.

Além dos discos, o álbum Magical Mystery Tour também participou do processo que durou quatro anos. De acordo com o comunicado, equipamentos antigos e modernos foram utilizados para manter a autenticidade e a integridade das gravações analógicas.

Cada CD virá com encarte mais caprichado que o original, trazendo novas informações e fotos raras. Uma edição limitada dos discos terá um documentário sobre como o respectivo álbum foi concebido. As coletâneas Past Masters 1 e 2 agora integram um só álbum, que também chega às lojas no dia 9.

Para os beatlemaníacos, ainda haverá dois pacotes: The Beatles in Mono, com gravações em mono de dez álbuns e duas masters do início da carreira da banda; e uma caixa com as versões em estéreo de todos os 14 discos remasterizados: Please Please Me, With the Beatles, A Hard Day's Night, Beatles for Sale, Help!, Rubber Soul, Revolver, Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, Yellow Submarine, Magical Mystery Tour, The Beatles (o Álbum Branco), Abbey Road, Let It Be e Past Masters.

A respeito do lançamento das faixas dos Beatles em formato digital nenhuma novidade, apesar de ambas as empresas garantirem que as conversas nesse sentido continuam.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

A MENTIRA TEM PERNAS CURTAS, MAS TORNEADAS

A mentira tem pernas curtas mas bem torneadas, como as de Lurdinha, por exemplo, minha prima e musa da lan house de Solidão, Pernambuco.

A mentira tem pernas curtas, mas é pra lá de sexy, usa um shortinho que só vendo, de parar a Rebouças, de fechar o comércio.

A mentira é só um modo menos doloroso de se editar a vida, um corte, uma linguagem, diz um amigo que não sai da sua gelada ilha de edição nem para ir ao banheiro.

Democrática, a mentira nasceu para todos como o sol dos trópicos.

Mente o católico e o evangélico também mente ao dizer que esse mal jamais sairia da sua boca. Mente o judeu, mente o árabe da Faixa de Gaza e só não mente o homem-bomba porque não volta para contar a história.

O macho mente, mas mente muito melhor a fêmea, ela tem a manha, o esmero, o escopo, a marcenaria da coisa, o dom de iludir como na canção de Noel & Vadico, a treta, o apuro, a língua, o domínio.

De tanto abusarmos da moça de pernas curtas, nós, os marmanjos, banalizamos tal prática, nos entregamos pelo olho, pelos trejeitos, mesmo quando se trata da mentira mais sincera.

Se for jornalista o sujeito, nooossaa, só deixa de mentir quando artista morto, como na música de Fred 04.

É isso mesmo, até os melhores exemplares da raça masculina cometem as suas trapaças, dissimulações, subterfúgios, maquiagens na face da quase sempre insuportável realidade. Do presidente da corte superior ao trombadinha. A diferença é que uns ainda coram, enquanto outros nem se incomodam com as faces infestadas por cupins.

Todo esse nariz de cera, esse lero-lero da cumeeira dessa crônica, para dizer que folheei dia desses, na espera do dentista, “101 mentiras que os homens contam e por que elas acreditam” (ed. Ediouro), da norte-americana Dory Hollander, um clássico da psicologia barata. Aliás, nem no dentista foi, o fato deu-se no consultório do homeopata, quer dizer, no analista...

Minto. Comprei mesmo o livro no sebo, por dever de ofício, e o devorei, olhos de traça. Que mentira que lorota boa, seu escriba de meia tigela, seu Zelig, que fica inventando desculpas para as leituras mais vagabundas.

Dane-se, comprei, li e gostei, pronto.

Melhor assim. E quer saber, é um clássico da psicologia popular universal. Está para a fofoca de salão como “A Interpretação dos Sonhos” [by Freud] está para a psicanálise. São frases que podem ser ditas tanto em Manhattan como no sertão do Crato. Dona Hollander fez uma pesquisa séria, ouvindo muita gente, sobre nossas mentiras, nem sempre sinceras, e nossas piores promessas.

Vai de um inocente "estou cansado demais" a um irresponsável "eu te amo" _dito na hora errada à mulher errada, no lugar errado”. Começo, meio e fim e a nossa cuca ruim, como na canção do príncipe Ronnie Von.

Por que elas acreditam, entonce? A psicóloga arrisca respostas. Uma delas: as mulheres acham que ceticismo e romantismo não podem andar juntos, sob pena de estragar as coisas.

Dona Hollander nos separa em dois blocos: os perigosos e, digamos, aéticos, que abusam da mentira, que enganam por "esporte e lucro", de forma inescrupulosa como donos de bancos; os mentirosos ocasionais, que se mostram dissimulados sob pressão e desviam a realidade com pequenas lorotas, artifícios para se livrar da "fúria feminina" etc.

Nessa categoria estão também aqueles que poderíamos chamar de canalhas líricos, inocentes galanteadores como o Bertrand Morane do filme "O homem que amava as mulheres".

Seja qual for a sua classificação, a leitura pode ser feita de forma séria e compenetrada, na linha auto-análise, ou apenas como um delicioso chiclete para a mente, ora. À guisa de tira-gosto, ficam ai algumas casquinhas e caldinhos das nossas melhores mentiras captadas pela autora:

"As únicas fantasias sexuais que tenho são com você".

"Você é maravilhosa, merece alguém melhor do que eu".

"Relaxe, é apenas uma amiga".

"Vou deixar minha mulher".

"O que me atrai em você é a sua mente".

"Não, não acho você gorda".



por xico sá

segunda-feira, 13 de abril de 2009

sábado, 11 de abril de 2009

CONSELHO SENTIMENTAL MASCULINO

Veja m um exemplo típico do companheirismo :
Caro Antonio Roberto,
Espero que possa me ajudar.

Peguei meu carro e saí pra trabalhar, deixando meu marido em casa vendo televisão, como sempre. Rodei pouco mais de 1km quando o motor morreu e o carro parou. Voltei pra casa, para pedir ajuda ao meu marido.
Quando cheguei, nem pude acreditar, ele estava no quarto, com a filha da vizinha!
Eu tenho 32 anos, meu marido 34, e a garota 22. Estamos casados há 10 anos, ele confessou que eles estavam tendo um caso há 6 meses.
Eu o amo muito e estou desesperada.
Você pode me ajudar?
Antecipadamente grata.
Patrícia


--------------------------------------------------------------------------------

RESPOSTA



Cara Patrícia ,

Quando um carro pára, depois de haver percorrido uma pequena distância, isso pode ter ocorrido devido a uma série de fatores. Comece por verificar se tem gasolina no tanque. Depois veja se o filtro de gasolina não está entupido. Verifique também se tem algum problema com a injeção eletrônica. Se nada disso resolver o problema, pode ser que a própria bomba de gasolina esteja com defeito, não proporcionando quantidade ou pressão suficiente nos injetores.


A pessoa ideal para ajudá-la seria um mecânico. Você jamais deveria voltar em casa chamar seu marido. Ele não é mecânico. Você está errada. Não repita mais isso.

Espero ter ajudado.


ANTONIO ROBERTO

terça-feira, 7 de abril de 2009

IDADE

Já aconteceu de você, ao olhar pessoas da sua idade e pensar: Não posso estar assim tão velho (a)?!!!

Veja o que conta uma amiga:

- Estava sentada na sala de espera para a minha primeira consulta com um novo dentista, quando observei que o seu diploma estava dependurado na parede.

Estava escrito o seu nome e, de repente, recordei de um moreno alto, que tinha esse mesmo nome.

Era da minha classe do colegial, uns 30 anos atrás, e eu me perguntava:

Poderia ser o mesmo rapaz por quem eu tinha me apaixonado à época?

Quando entrei na sala de atendimento imediatamente afastei esse pensamento do meu espírito.

Este homem grisalho, quase calvo, gordo, com um rosto marcado, profundamente enrugado, era demasiadamente velho pra ter sido o meu amor secreto.

Depois que ele examinou o meu dente, perguntei-lhe se ele estudou no Colégio Sacré Coeur.

- Sim, respondeu-me.

- Quando se formou? Perguntei.

- 1965 . Por que esta pergunta? Respondeu.

- É que... bem... você era da minha classe, eu exclamei.

E então, este velho horrível, cretino, careca, barrigudo, flácido, filho de uma puta, lazarento me perguntou:

- A Sra. era professora de quê?

sexta-feira, 3 de abril de 2009

O PAVÃO E O URUBU

Em uma planície, viviam um Urubu e um Pavão. Certo dia, o Pavão refletiu:
- Sou a ave mais bonita do mundo animal, tenho uma plumagem colorida e exuberante, porém nem voar eu posso, de modo a mostrar minha beleza. Feliz é o Urubu que é livre para voar para onde o vento o levar.

O Urubu, por sua vez, também refletia no alto de uma árvore:

- Que infeliz ave sou eu, a mais feia de todo o reino animal e ainda tenho que voar e ser visto por todos, quem me dera ser belo e vistoso tal qual aquele Pavão.

Foi quando ambas as aves tiveram uma brilhante idéia em comum e se juntaram para discorrer sobre ela: cruzar-se seria ótimo para ambos, gerando um descendente que voasse como o Urubu e tivesse a graciosidade de um Pavão...


Então cruzaram... e daí nasceu o Peru: QUE É FEIO PRA DEDÉU E NÃO VOA!!!


Moral da história: "- Se tá ruim, nem vem com gambiarra que piora!!!"